09/10/2013
São Paulo - No começo deste ano,
110?000 funcionários dos Correios receberam
um informativo que dizia que o contracheque seria menor. Foram comunicados que,
a partir de abril, um valor médio correspondente a 1,7% do salário seria
descontado do pagamento todos os meses, por tempo indeterminado.
Os recursos seriam usados para
cobrir o déficit de cerca de 1 bilhão de reais do Postalis, o fundo de pensão
dos Correios, em que esses empregados investem. Os funcionários podem optar por
não pagar o extra, mas apenas por três meses.
Se ficarem “inadimplentes” por um
período maior, serão excluídos do plano — o que significa que o dinheiro
acumulado passará a ser corrigido pela inflação até que possa ser resgatado, no
momento da aposentadoria ou da demissão.
Alguns carteiros procuraram o
Postalis para entender o que estava ocorrendo, mas o fundo, inicialmente, não
deu explicações mais detalhadas. Pressionado pela Associação Nacional dos
Participantes do Postalis, que entrou com uma ação na Justiça para ter acesso
ao relatório de investimento do fundo, a fundação divulgou alguns dados sobre
as aplicações feitas nos últimos dois anos. EXAME teve acesso a parte dessas
informações, que mostram por que o Postalis pode levar mais de uma década para
zerar o prejuízo.
O Postalis é o fundo de pensão
com o maior número de investidores do país — e, agora, é também o que tem o
maior déficit, em relação ao patrimônio, entre as grandes fundações. O déficit
representa 13% do volume total sob gestão.
O balanço do Postalis mostra que
287 milhões de reais desse déficit se devem a “ajustes técnicos”, motivados
pelo aumento da expectativa de vida e pela redução no número de novos
participantes. É normal que os fundos tenham de fazer esses ajustes, já que é
impossível prever com exatidão por quanto tempo seus investidores vão receber
as aposentadorias.
Os fundos de
pensão costumam manter recursos em caixa para fazer frente
a esses imprevistos — e, assim, conseguir pagar as aposentadorias. Mas as
regras da Previc, órgão do Ministério da Previdência que fiscaliza esse setor,
determinam que, se os fundos fecham dois anos seguidos com déficit, precisam
apresentar um plano para resolver o problema antes que o caixa termine. A
fundação dos Correios decidiu cobrar as contribuições dos investidores.
Investimentos frustrados
A parte mais preocupante do
déficit do Postalis é a perda de 698 milhões de reais com investimentos
malsucedidos. Os dados obtidos por EXAME mostram que parte desse prejuízo veio
de aplicações em títulos de bancos que quebraram e em papéis de empresas com
dificuldades financeiras.
Fonte:
http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/1047/noticias/faltou-1-bilhao